Culto à aparência no mundo atual

Saúde: estado daquele cujas funções orgânicas, físicas e mentais se acham em situação normal. Tal conceito vai de encontro à devoção, que o indivíduo do século XXI, desenvolveu pelo próprio corpo, em virtude de manifestar-se como um culto à perfeição e ao consumismo. Entretanto, essa relação desarmônica do homem com a aparência tem fortes raízes históricas e que só serão superadas com uma sociedade consciente e sensata. “É que Narciso acha feio o que não é espelho” esse trecho da música Sampa, do cantor Caetano Veloso, retrata Narciso, personagem da mitologia grega, que possuía uma paixão desenfreada por contemplar a própria fisionomia. Dessa forma, o comportamento do personagem pode ser observado entre a comunidade contemporânea, que se mostra cada vez mais preocupada em seguir determinados padrões de beleza muito propagados nas redes sociais, que são espaços onde os indivíduos exibem corpos malhados e roupas caríssimas. Por outro lado, há aqueles sujeitos que, por mais que tentem acompanhar esse estilo de vida, nunca conseguirão, seja pela diferença de biotipo que não permite, por exemplo, que uma mulher tenha uma cintura tão fina quanto a desejada, pois não é da sua genética; seja pela situação financeira que não possibilita a realização de cirurgias plásticas. Isso acarreta, geralmente, problemas psicológicos, pelo simples fato de algumas criaturas não atenderem às exigências de um arquétipo tão cruel e segregante. Com efeito, essa concepção errônea de aparência impecável tem substancial vínculo com o ideal grego de beleza, o qual se mostrava na escultura grega com muita simetria e equilíbrio. Não obstante, muitos sujeitos, além de moldar seus físicos, adotam um modo de vida consumista com o fito de acompanhar as tendências de moda, que são ostensivamente popularizadas pela web, precipuamente pelos famosos. Desse modo, é fulcral perceber a impressionante capacidade que o capitalismo tem de reinventar-se diante das mudanças de comportamento da população, propondo jeitos de viver supérfluos e efêmeros. Assim sendo, urge que psicólogos e psicanalistas, com o auxílio da mídia, desenvolvam campanhas televisivas voltadas à autovalorização e à saúde mental perante à era das perfeições, a fim de que a beleza corporal alheia não seja motivo de subalternidade consigo. Ademais, é imperioso que o indivíduo realize um autoquestionamento antes da aquisição de qualquer novo produto, porque a erradicação do impasse, acima de tudo, deve partir da iniciativa individual. Somente assim, o ideário de Narciso e a visão grega de beleza poderiam ser contrariados por uma sociedade fundamentada no auto respeito.